um agradecimento
ALERTA: Este texto é gigante
Escrever um texto para uma folha de sala é/
Desculpem, vou voltar atrás.
Não foi preciso escrever um texto para a folha de sala e – claro, óbvio, – eu fiquei muito contente na altura, porque aquilo antes da
estreia, com tanta coisa, tanta pequena coisa, tanta grande coisa para responder, eu não podia ficar exactamente triste,
exactamente infeliz por não ter de escrever um texto sobre o trabalho e o que ele significa, enquanto ele ainda – sendo nós
muito concretos – não significou, não atirou, não estreou.
Ora, fazer o Longe foi uma coisa – uso o termo coisa, porque não é assim à primeira que eu entendo o que fazer este espectáculo foi,
como é que se faz uma coisa destas – fazer o Longe foi uma espécie de bulha, uma confusão. Sabia exactamente o que queria fazer,
mas ao mesmo tempo não fazia ideia nenhuma. No fim, fiquei satisfeita: com os defeitos que possa ter, era isto que eu queria fazer.
Para dizer que: talvez dê jeito escrever o texto da folha de sala agora, que já foi tudo ao lume, porque ainda estou no ressalto da
chapada que é estrear uma coisa destas. Não sei se se percebe bem o que quero fazer com isto. Talvez possa ser agradecer.
Pergunta: será que vou conseguir voltar a ler um romance, estar simplesmente num café sem pensar nisto, sem levar comigo este
tema que me acompanha há mais de um ano?
Não quereria
fazer estas coisas
com outras pessoas.
Voltando: claro que o que a Margarida Gonçalves conseguiu fazer é difícil, – porra! - é do caraças. Foram dias e dias a batalhar
com o texto – e não é só compreender, ir pelas ideias, nem é só decorar (decorar texto-monstro, científico, ensaio, citação, aparte,
parênteses, texto em verso, etc, etc, etc) – não é só por isto que o trabalho dela é incrível, não é só porque decora: é porque consegue
ser uma pessoa dentro daquilo, dizer aquilo, ser aquilo quando faz falta. Como é que se faz o que ela fez?
Quem é que faz o que ela fez?
Parênteses para lembrar a Sara Adães a tentar e a conseguir injectar alegria naquela ciência, a querer ser preciosa, sempre com
cuidado, com atenção. É um trabalho que não se paga. Quer dizer: paga-se, mas o que vale não é dinheiro. Parênteses no parênteses:
ler artigos científicos é pior do que ir à Segurança Social e às Finanças no nosso dia de aniversário. Fecho parênteses dentro do
parênteses e parênteses.
Volto à ideia de que isto não é fácil porque é preciso afinar o ouvido, atentar no trabalho do José Alberto Gomes, que trabalha sempre
em profundidade, cava, escavou aqui com a música, levou aquilo tudo para outro plano, outra coisa, e propôs uma coisa que vive
para além do espectáculo.
O Rui Monteiro é um rapaz muito alto de Braga que entende tudo acerca de dar show – sim, claro, já sabemos, ele põe o teatro todo
naquilo, é verdade – mas atenção, não se distraiam, porque tudo o que ele traz é dramaturgia. STOP THE PRESS, como diria o
E. B. White, porque eu quero falar aqui da Teresa Antunes, que não falha. E é uma sorte tê-la
connosco.
Quero falar também da Catarina Barros: a Catarina que é capaz de ter cem mil ideias seguidas, e a seguir mais três mil, e depois mais
quinhentas, como se estivesse a começar, mas já tem muitos anos disto e sabe como se fazem as coisas, só que inventa, imagina
e não desiste de fazer uma coisa que seja nova, e que se entusiasma. Desvio para falar do António Silva, que até nem é da nossa
equipa, para ser precisa, mas que foi absolutamente fundamental para conseguirmos que as cortinas mexessem, primeiro devagar,
depois mais devagar, e mais devagar ainda um bocado. Outro desvio: há ainda o senhor Josué que fez a mesa e o banco, a Dona
Ana e a Dona Rosa que fizeram as cortinas.
E o Nuno Matos
desde tempos imemoriais
a saber o que dizer
e quando o dizer
e a insistir
- mas que já matou o manjerico que lhe comprei na estreia.
AVISO: As pessoas que se deixaram entrevistar, que me contaram histórias, que me responderam a perguntas ou a pedidos estão
todas aqui dentro, e nunca me hei-de esquecer das coisas todas que fui encontrando pelo caminho – a menos, claro, que o meu
cérebro comece a reajustar os padrões de activação, a misturá-los, a diluir lentamente as vossas histórias e favores, e a transformá-
los irremediavelmente em material que levo comigo sem notar.
Se isso acontecer, peço desculpa a: João Miguel Mota, Sara Sá Jones, Isabel Morim, Tiago Jorge, Carla Miranda, Elena Sines, Ludo
Sousa, Pedro Marques, Vera Santos, Marisa Catita, Vasco Vasconcelos, Alexandre Marinho, Inês Gregório, Teresa Cardoso, Teresa
Leal, Gonçalo Gregório.
E, já agora, aos autores todos que citei e que não vou enfiar aqui agora.
E já agora ao público.
Uma nota à Inês Maia, que mergulhou connosco.
Uma palavra ao Tiago Guedes, que acreditou nisto tudo.
Um agradecimento à equipa do Teatro Municipal do Porto. E ao TUP - Teatro Universitário do Porto – sempre.
Um “obrigada” ao Gonçalo Amorim e toda a equipa do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica.
E uma coisa sobre os mortos:
Quer dizer, uma coisa sobre
Vá, vou citar o William Goyen num livro maravilhoso – é mesmo impressionante – que se chama House of Breath.
(O original não é bem assim. Isto é uma tradução. Isto é uma versão. Isto é uma mentira).
Agora sim, uma coisa sobre os mortos:
Tudo o que está perdido anseia por ser encontrado de novo, refeito e devolvido a si próprio através de quem o encontra.
Escrever um texto para uma folha de sala é/
Desculpem, vou voltar atrás.
Não foi preciso escrever um texto para a folha de sala e – claro, óbvio, – eu fiquei muito contente na altura, porque aquilo antes da
estreia, com tanta coisa, tanta pequena coisa, tanta grande coisa para responder, eu não podia ficar exactamente triste,
exactamente infeliz por não ter de escrever um texto sobre o trabalho e o que ele significa, enquanto ele ainda – sendo nós
muito concretos – não significou, não atirou, não estreou.
Ora, fazer o Longe foi uma coisa – uso o termo coisa, porque não é assim à primeira que eu entendo o que fazer este espectáculo foi,
como é que se faz uma coisa destas – fazer o Longe foi uma espécie de bulha, uma confusão. Sabia exactamente o que queria fazer,
mas ao mesmo tempo não fazia ideia nenhuma. No fim, fiquei satisfeita: com os defeitos que possa ter, era isto que eu queria fazer.
Para dizer que: talvez dê jeito escrever o texto da folha de sala agora, que já foi tudo ao lume, porque ainda estou no ressalto da
chapada que é estrear uma coisa destas. Não sei se se percebe bem o que quero fazer com isto. Talvez possa ser agradecer.
Pergunta: será que vou conseguir voltar a ler um romance, estar simplesmente num café sem pensar nisto, sem levar comigo este
tema que me acompanha há mais de um ano?
Não quereria
fazer estas coisas
com outras pessoas.
Voltando: claro que o que a Margarida Gonçalves conseguiu fazer é difícil, – porra! - é do caraças. Foram dias e dias a batalhar
com o texto – e não é só compreender, ir pelas ideias, nem é só decorar (decorar texto-monstro, científico, ensaio, citação, aparte,
parênteses, texto em verso, etc, etc, etc) – não é só por isto que o trabalho dela é incrível, não é só porque decora: é porque consegue
ser uma pessoa dentro daquilo, dizer aquilo, ser aquilo quando faz falta. Como é que se faz o que ela fez?
Quem é que faz o que ela fez?
Parênteses para lembrar a Sara Adães a tentar e a conseguir injectar alegria naquela ciência, a querer ser preciosa, sempre com
cuidado, com atenção. É um trabalho que não se paga. Quer dizer: paga-se, mas o que vale não é dinheiro. Parênteses no parênteses:
ler artigos científicos é pior do que ir à Segurança Social e às Finanças no nosso dia de aniversário. Fecho parênteses dentro do
parênteses e parênteses.
Volto à ideia de que isto não é fácil porque é preciso afinar o ouvido, atentar no trabalho do José Alberto Gomes, que trabalha sempre
em profundidade, cava, escavou aqui com a música, levou aquilo tudo para outro plano, outra coisa, e propôs uma coisa que vive
para além do espectáculo.
O Rui Monteiro é um rapaz muito alto de Braga que entende tudo acerca de dar show – sim, claro, já sabemos, ele põe o teatro todo
naquilo, é verdade – mas atenção, não se distraiam, porque tudo o que ele traz é dramaturgia. STOP THE PRESS, como diria o
E. B. White, porque eu quero falar aqui da Teresa Antunes, que não falha. E é uma sorte tê-la
connosco.
Quero falar também da Catarina Barros: a Catarina que é capaz de ter cem mil ideias seguidas, e a seguir mais três mil, e depois mais
quinhentas, como se estivesse a começar, mas já tem muitos anos disto e sabe como se fazem as coisas, só que inventa, imagina
e não desiste de fazer uma coisa que seja nova, e que se entusiasma. Desvio para falar do António Silva, que até nem é da nossa
equipa, para ser precisa, mas que foi absolutamente fundamental para conseguirmos que as cortinas mexessem, primeiro devagar,
depois mais devagar, e mais devagar ainda um bocado. Outro desvio: há ainda o senhor Josué que fez a mesa e o banco, a Dona
Ana e a Dona Rosa que fizeram as cortinas.
E o Nuno Matos
desde tempos imemoriais
a saber o que dizer
e quando o dizer
e a insistir
- mas que já matou o manjerico que lhe comprei na estreia.
AVISO: As pessoas que se deixaram entrevistar, que me contaram histórias, que me responderam a perguntas ou a pedidos estão
todas aqui dentro, e nunca me hei-de esquecer das coisas todas que fui encontrando pelo caminho – a menos, claro, que o meu
cérebro comece a reajustar os padrões de activação, a misturá-los, a diluir lentamente as vossas histórias e favores, e a transformá-
los irremediavelmente em material que levo comigo sem notar.
Se isso acontecer, peço desculpa a: João Miguel Mota, Sara Sá Jones, Isabel Morim, Tiago Jorge, Carla Miranda, Elena Sines, Ludo
Sousa, Pedro Marques, Vera Santos, Marisa Catita, Vasco Vasconcelos, Alexandre Marinho, Inês Gregório, Teresa Cardoso, Teresa
Leal, Gonçalo Gregório.
E, já agora, aos autores todos que citei e que não vou enfiar aqui agora.
E já agora ao público.
Uma nota à Inês Maia, que mergulhou connosco.
Uma palavra ao Tiago Guedes, que acreditou nisto tudo.
Um agradecimento à equipa do Teatro Municipal do Porto. E ao TUP - Teatro Universitário do Porto – sempre.
Um “obrigada” ao Gonçalo Amorim e toda a equipa do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica.
E uma coisa sobre os mortos:
Quer dizer, uma coisa sobre
Vá, vou citar o William Goyen num livro maravilhoso – é mesmo impressionante – que se chama House of Breath.
(O original não é bem assim. Isto é uma tradução. Isto é uma versão. Isto é uma mentira).
Agora sim, uma coisa sobre os mortos:
Tudo o que está perdido anseia por ser encontrado de novo, refeito e devolvido a si próprio através de quem o encontra.