As primeiras perguntas são ruídos, persistentes e quase indistinguíveis, ou as primeiras perguntas são estrondos, impossíveis de ignorar, de des-ouvir, de desfazer.
Estudei filosofia para aprender a ler e não aprendi nada, a não ser a perguntar sempre, e continuar, e a ir sempre na corda das perguntas até ao momento em que se desiste. Noto: as perguntas não acabam, não chegam à meta, as perguntas continuam mesmo depois de chegarmos à última pergunta: eu desisto, mas a possibilidade da pergunta é infinita.
Ai, o infinito.
A minha irmã já explicou tantas vezes, para eu tentar ser precisa; a minha irmã já me explicou o infinito em “matemáticas”, em “astrofísicas”. A minha irmã vive do mesmo que eu: de fazer perguntas, mas as dela são muito melhores que as minhas. A minha irmã convidou-me para fazer o Ruído com ela, e é graças à ideia dela que o espectáculo acontece. A Lara adora o Einstein, mas sabe que ele não fez ciência sentado numa nuvem. A Lara faz ciência sentada numa mesa, tem frio nos pés, distrai-se. A Lara é uma pessoa.
Aproveito, já agora, para dizer que os cientistas são pessoas. Os profissionais de cultura são pessoas. Não fazem arte sentados em nuvens. A ciência também não se faz assim. As pessoas vivem, comem, vão de férias, algumas têm filhos, gatos, famílias, responsabilidades. Precisam de contratos, de condições de trabalho, de concursos justos, claros e atempados, de plataformas de contacto online funcionais, de diversidade, de/
Vou voltar ao Ruído.
A Inês Maia trabalha nessa função quase quanticamente indefinida que é a direcção de produção: tantas vezes vista como uma posição assistencialista, muitas vezes desautorizada, muitas vezes sobrecarregada, muitas vezes indefinida o suficiente para se poder pedir qualquer coisa. Abrir garrafas de água. Reuniões de zoom. Babysitting.
A Inês Maia tem sido fundamental. Para mim, claro está, não vou falar pelo resto do mundo. Fazer teatro - ou lá como se chamam as coisas que nós fazemos! -, fazê-lo exige pensamento, exige contraponto, exige horas de trabalho prévio de cisma e pesquisa e cuidado. A Inês faz perguntas: desde as primeiras perguntas, até às que é preciso estudar para saber fazer, e essas perguntas fazem-me fazer perguntas, e mais perguntas voltam, e vêm. É assim que se constroem coisas.
Eu e o Zé já levamos uns anos disto; já sabemos falar um com o outro, já nos entendemos. E ainda temos muitos planos juntos, e vamos continuar a ter, se o Big Slurp não nos engolir a todos e a tudo, e acabar connosco.
O Miguel tem muito medo de partir aquários e com a câmara dos olhos dele filmou ideias que não se tocam, e janelas, e ondas do mar com ruídos imensos que distorcem tudo. Alguns berlindes são dele.
A Maria Inês é - lamento ter de usar este termo tão nhonhó - terna como tudo, e os olhos dela são gigantes porque querem sempre ver, olhar, estar atentos. A Maria Inês é inteligente, é ágil, é engraçada. A Inês sabe ouvir e sabe ver e sabe o que fazer disso.
O Nuno tem uma paciência maior que a Via Láctea, juro. E é muito bom no que faz.
O Ricardo - que, infelizmente, não é o do vídeo “Quem é o maior?” - resolve soluços, encrencas, e é sempre público das coisas em que trabalha.
A Mariana quando aparece muda as coisas. E isto é dizer muito.
E o António e a Catarina viram todos os dias o espectáculo.
Quero agradecer ao Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Também ao Planetário do Porto - CCV, em especial ao Paulo, à Elsa, ao Filipe, ao Daniel e ao Ricardo.
O Ruído foi possível também com o apoio da Dg Artes e do Garantir Cultura, com ajudas do CCD da Universidade Católica, da Vânia Ferreira e do Sérgio Pereira.
E porque as primeiras perguntas se fazem com ecos, com mais perguntas, com todas as perguntas, quero agradecer a todas as pessoas que viram o espectáculo, que fizeram perguntas muito complicadas e muito simples no fim, ou pequenos comentários, críticas, ou que não disseram nada, mas estiveram lá.
Por último, quero agradecer aos membros da Noitarder que ainda não mencionei: a Sara, o Gonçalo, o Vasco, o João, a Joana e a Maria João.
E também à contabilista, que me dá sermões.
Este texto é para agradecer a esta gente toda. A estas pessoas todas. E os agradecimentos, no dia-a-dia, desfazem-se no ruído das outras coisas. Mas são ruído com significado, se aprendermos a ouvi-lo.
Raquel S.
Estudei filosofia para aprender a ler e não aprendi nada, a não ser a perguntar sempre, e continuar, e a ir sempre na corda das perguntas até ao momento em que se desiste. Noto: as perguntas não acabam, não chegam à meta, as perguntas continuam mesmo depois de chegarmos à última pergunta: eu desisto, mas a possibilidade da pergunta é infinita.
Ai, o infinito.
A minha irmã já explicou tantas vezes, para eu tentar ser precisa; a minha irmã já me explicou o infinito em “matemáticas”, em “astrofísicas”. A minha irmã vive do mesmo que eu: de fazer perguntas, mas as dela são muito melhores que as minhas. A minha irmã convidou-me para fazer o Ruído com ela, e é graças à ideia dela que o espectáculo acontece. A Lara adora o Einstein, mas sabe que ele não fez ciência sentado numa nuvem. A Lara faz ciência sentada numa mesa, tem frio nos pés, distrai-se. A Lara é uma pessoa.
Aproveito, já agora, para dizer que os cientistas são pessoas. Os profissionais de cultura são pessoas. Não fazem arte sentados em nuvens. A ciência também não se faz assim. As pessoas vivem, comem, vão de férias, algumas têm filhos, gatos, famílias, responsabilidades. Precisam de contratos, de condições de trabalho, de concursos justos, claros e atempados, de plataformas de contacto online funcionais, de diversidade, de/
Vou voltar ao Ruído.
A Inês Maia trabalha nessa função quase quanticamente indefinida que é a direcção de produção: tantas vezes vista como uma posição assistencialista, muitas vezes desautorizada, muitas vezes sobrecarregada, muitas vezes indefinida o suficiente para se poder pedir qualquer coisa. Abrir garrafas de água. Reuniões de zoom. Babysitting.
A Inês Maia tem sido fundamental. Para mim, claro está, não vou falar pelo resto do mundo. Fazer teatro - ou lá como se chamam as coisas que nós fazemos! -, fazê-lo exige pensamento, exige contraponto, exige horas de trabalho prévio de cisma e pesquisa e cuidado. A Inês faz perguntas: desde as primeiras perguntas, até às que é preciso estudar para saber fazer, e essas perguntas fazem-me fazer perguntas, e mais perguntas voltam, e vêm. É assim que se constroem coisas.
Eu e o Zé já levamos uns anos disto; já sabemos falar um com o outro, já nos entendemos. E ainda temos muitos planos juntos, e vamos continuar a ter, se o Big Slurp não nos engolir a todos e a tudo, e acabar connosco.
O Miguel tem muito medo de partir aquários e com a câmara dos olhos dele filmou ideias que não se tocam, e janelas, e ondas do mar com ruídos imensos que distorcem tudo. Alguns berlindes são dele.
A Maria Inês é - lamento ter de usar este termo tão nhonhó - terna como tudo, e os olhos dela são gigantes porque querem sempre ver, olhar, estar atentos. A Maria Inês é inteligente, é ágil, é engraçada. A Inês sabe ouvir e sabe ver e sabe o que fazer disso.
O Nuno tem uma paciência maior que a Via Láctea, juro. E é muito bom no que faz.
O Ricardo - que, infelizmente, não é o do vídeo “Quem é o maior?” - resolve soluços, encrencas, e é sempre público das coisas em que trabalha.
A Mariana quando aparece muda as coisas. E isto é dizer muito.
E o António e a Catarina viram todos os dias o espectáculo.
Quero agradecer ao Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Também ao Planetário do Porto - CCV, em especial ao Paulo, à Elsa, ao Filipe, ao Daniel e ao Ricardo.
O Ruído foi possível também com o apoio da Dg Artes e do Garantir Cultura, com ajudas do CCD da Universidade Católica, da Vânia Ferreira e do Sérgio Pereira.
E porque as primeiras perguntas se fazem com ecos, com mais perguntas, com todas as perguntas, quero agradecer a todas as pessoas que viram o espectáculo, que fizeram perguntas muito complicadas e muito simples no fim, ou pequenos comentários, críticas, ou que não disseram nada, mas estiveram lá.
Por último, quero agradecer aos membros da Noitarder que ainda não mencionei: a Sara, o Gonçalo, o Vasco, o João, a Joana e a Maria João.
E também à contabilista, que me dá sermões.
Este texto é para agradecer a esta gente toda. A estas pessoas todas. E os agradecimentos, no dia-a-dia, desfazem-se no ruído das outras coisas. Mas são ruído com significado, se aprendermos a ouvi-lo.
Raquel S.