Longe
Longe foi o primeiro espectáculo da Noitarder e estreou em Junho de 2018 no Teatro do Campo Alegre, no FITEI.
Longe é um espectáculo de pensamento que procura reflectir sobre a memória e sobre a forma como recordamos as caras de pessoas que já morreram. É uma pesquisa sobre como pensamos e acedemos à sensação de recordar: lembrar é muitas vezes um clarão cuja fixação depende da nossa capacidade de construir um caminho discursivo. Para nos lembrarmos – para que a memória permaneça connosco – descrevemos, escrevemos, perguntamos: falhamos. A palavra não corresponde ao que refere.
É possível descrever alguém que está ausente? E quando passam anos? De que forma é que a linguagem e a emoção batalham? Como é que este processo de lembrar afecta a forma como falamos? O que nos resta dos mortos? Em que coisas vivas os recordamos? Vamos esquecê-los? O que é que a ciência sabe acerca disto?
A recordação é um acontecimento interior, imagético, um clarão de repente, uma intuição de uma imagem que foge quando a tentamos descrever. É como um milagre, traz à presença um momento que vivemos anteriormente: frágil, como fumo. A recordação galga a distância que o tempo deixou entre o agora e o antes. É um vislumbre, difícil de reter, um sentido que não se dá a uma forma de ser descrito. Mas que justiça fazem as palavras às recordações? E qual é a alternativa ao esquecimento? O que fica ao longe?
Quando vemos uma fotografia e nos lembramos exactamente do momento em que a fotografia foi tirada, lembramo-nos exactamente do momento em que a fotografia foi tirada?
Longe cruza leituras de várias áreas: neurociências, neuropsicologia, estudos acerca de fantasmas, artigos de jornais, testemunhos de pessoas que perderam alguém, histórias ouvidas algures, livros sobre a perda, filosofia, etc. Tentámos perceber, imaginar. Chegámos a um espectáculo que se propõe pensar e perguntar, procurar um sentido que vai surgindo mas não se agarra, e que interrompe um dispositivo conferencial, transformando-o num espaço abstracto de reflexão sobre a perda e a memória.
Longe (Afar) was the first show by Noitarder. It is a think-piece about how we remember and forget people who died, and about how we try to access memory through language, which inevitably fails. Longe crosses scientific papers with studies about ghosts, mourning diaries, interviews and other materials, trying to arrive to answers, but ever failing. The show is a lecture-performance interrupted by another discourse that emerges slowly, transforming the lecture space into a mental one, where the speaker loses reference and control.
direcção artística e texto. artistic direction and text. Raquel S.
interpretação. performance. Margarida Gonçalves
cenografia. set design. Catarina Barros
música. music. José Alberto Gomes
desenho de luz. light design. Rui Monteiro
figurino. costume. Catarina Barros e Raquel S.
apoio à pesquisa científica. scientific support. Sara Adães
imagem e teaser. image and teaser. Nuno Matos
operação de luz. light operation. Teresa Antunes
construção do cenário. set builder. Móveis Maia
confecção de cortinas. curtain execution. Ana Fernandes e. and. Rosa Almeida
apoio à produção. production support. Inês Maia | Pé de Cabra
um espectáculo. a. Noitarder – Associação Cultural show
co-produção. coproduced by. Teatro Municipal do Porto
inserido no. in. FITEI 2018
agradecimentos. acknowledgements. Alexandre Marinho, Bruno Monteiro, Carla Miranda, Elena Sines, Gonçalo Gregório, Inês Gregório, Inês Maia, Joana Gama, João Miguel Mota, Ludo Sousa, Luís Fernandes, Mário Catita, Miguel C. Tavares, Pedro Marques, Sara Sá Jones, Sara Oliveira, Tiago Jorge, Teatro Experimental do Porto, Teatro do Bolhão, Teatro Universitário do Porto, Teresa Cardoso, Teresa Leal, Vasco Vasconcelos, Vera Santos e and Bruno Monteiro.
Um agradecimento especial à equipa de maquinaria do . special thanks to stage machinery team. TMP.
imprensa
FITEI abre com reflexão sobre a memória em tempo de perda, Maria João Monteiro, no Público
Longe esteve em cena 12 e 13 de Junho de 2018, no Teatro do Campo Alegre, integrado no FITEI.
Uma versão mais curta do texto foi lida a 4 de Maio de 2024 pela Teresa Coutinho, com direcção de Afonso Molinar, no Avenida – Um teatro em cada bairro, a convite do Teatro à Faca.